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domingo, 19 de julho de 2009

A Filosofia das Artes Marciais.

“Certo dia, vários jovens se reuniram com um mestre de artes marciais muito sábio. Tais jovens manifestavam um grande potencial de ação inspirado por ideais de ajuda à humanidade. Levados pela necessidade de harmonizar esses ideais com uma ação prática e eficiente, aceitaram a proposta de dialogar com o mestre sobre qual seria o melhor caminho a seguir.
O primeiro dos jovens a opinar expôs que, para ajudar as pessoas, o melhor caminho seria a Política, uma vez que somente quando os homens honestos governassem o mundo este poderia melhorar. O segundo defendeu o papel da Religião argumentando que, quando os homens verazes se tornassem sacerdotes, a humanidade poderia se libertar da miséria. O terceiro defendeu a importância da Ciência dizendo que quando os verdadeiros buscadores se tornassem cientistas, os homens poderiam superar a dor e o sofrimento. O quarto jovem, por sua vez, disse que a Arte seria o meio mais eficaz de transformação da existência humana já que quando os homens possuidores de senso estético apurado se tornassem artistas, a humanidade alcançaria a beleza.
Logo após terem se pronunciado, perguntaram ao mestre qual deles tinha razão. Então o mestre disse:
- O mais difícil é que o ser humano consiga viver em harmonia, de forma que suas ações possam refletir suas idéias, isto é, que haja constante equilíbrio entre seus pensamentos, sentimentos, energias e corpo físico, recebendo, assim, esses quatro elementos, o que por natureza lhes corresponde. Dessa forma, poderá o ser humano eliminar as suas carências e alcançar uma forma de vida paciente e fraternal. Após esta etapa, a Política, a Religião, a Ciência e a Arte poderão se tornar boas ferramentas para elevar a humanidade a uma etapa superior. Esse caminho o chamo, como todos os Sábios o fizeram, o Caminho da Sabedoria ou Filosofia. Eu, como instrutor de artes marciais, desenvolvo o caminho da Filosofia das Artes Marciais, que não é o único nem o melhor caminho, e cujo objetivo é qualificar o discípulo para chegar a ser verdadeiramente humano, ou seja, um homem bom, justo, veraz, sábio e belo, tanto quanto um homem pode sê-lo neste mundo.”
Deste pequeno conto, que guarda mais do que mostra, podemos extrair vários ensinamentos. Um deles é o que todos os grandes Mestres e instrutores têm promovido: a fraternidade humana - um convívio de paz, amor, caridade e muitas outras virtudes também tão importantes. Isso é algo que em geral todos sabemos, porém a dificuldade está justamente em viver essas virtudes no dia a dia. Um dos caminhos que levariam a uma prática desse ideal de convivência humana seria, segundo o conto, a Filosofia das Artes Marciais.
Com efeito, as artes marciais se propõem a melhorar a vida do ser humano em diversos aspectos.


São seus objetivos:
01. Equilibrar no ser humano os desejos com as tendências vocacionais, de tal forma que aprenda desejar o que na prática faz da melhor maneira;
02. Desenvolver o potencial do homem forte e corajoso, para o bem, o justo, o belo e o verdadeiro;
03. Ensinar a lidar com o medo;
04. Ensinar a viver estrategicamente;
05. Propor soluções de como preservar a saúde e controlar o estresse;
06. Ensinar a lidar com a solidão extraindo a mensagem do silêncio;
07. Mostrar como desenvolver a personalidade taticamente;
08. Mostrar como criar uma técnica que permita que os ideais conduzam a ações práticas em todos os instantes da vida;
09. Desenvolver o espiritual e o humano.
10. A prática da Filosofia das Artes Marciais implica, pois, uma forma de vida sóbria, sensata, paciente, plena de amor e em harmonia com todo o universo.


O mito que prevalece nas artes marciais é o do homem como “ponte” entre o céu e a terra.
De acordo com a Filosofia das Artes Marciais, o ser humano pode conquistar a unidade ainda neste mundo e assim trazer um grande benefício para todos.
Essas considerações por nós feitas até aqui podem surpreender muitas pessoas para as quais as artes marciais são apenas práticas esportivas ou mesmo atividades extremamente violentas. A associação de tais imagens às artes marciais pode ser justificada. O ser humano acaba por se deixar guiar, muitas vezes, por interesses que o fazem esquecer princípios e possibilidades de levar uma vida em que ideais e prática se harmonizem. O homem, deixando que seu maior inimigo, o egoísmo, o domine, manifestando toda sua fraqueza e ignorância separatista, acaba por afastar as práticas de sua origem pura, virtuosa.
As artes marciais possuem treinamentos para fortalecer o homem contra o egoísmo e conhecimentos milenares para vencer a ignorância da separatividade.
Originalmente, os guerreiros eram homens fortes e sábios. A tradição nos conta que desenvolviam a trilha da guerra interior, isto é, lutavam consigo mesmo para atingir a perfeição. A luta contra outros semelhantes nunca foi algo pretendido por tais homens, já que vislumbravam a realização, neste mundo, da mais sábia forma de vida, a da não violência. Aliás, é contra a violência que a Filosofia das Artes Marciais trava sua verdadeira batalha. O discípulo deve encarar seus próprios defeitos e vencê-los, um a um, até que a única armadura que aceite utilizar sejam suas virtudes.
A proposta deste livro é demonstrar que existe um caminho de virtudes marciais, não violentas, em que é possível vencer todos os obstáculos que separam o homem da sua verdadeira realidade, sem que este infrinja as sábias leis da natureza, ou seja, em harmonia e fraternidade com todos os seres humanos e todas as criaturas do universo.

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