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quinta-feira, 23 de julho de 2009

História do Karaté Shotokan e a Relação com o Sensei Jigoro Kano

A história do Mestre Gichin Funakoshi confunde-se com a própria história do Karaté, por isso a ele é creditado o título de "pai do Karaté moderno", devido aos seus esforços em divulgar essa arte para o mundo e torná-la acessível a todos.

Gichin Funacoshi nasceu em 1869 em Shuri, distrito de Yamakawa-Cho, Okinawa, no mesmo ano da Restauração Meiji. Era filho único, e logo após o seu nascimento foi levado para a casa dos seus avós maternos, onde foi educado, aprendendo poesias clássicas chinesas.

Algum tempo depois ele começou a frequentar a escola primária, Mestre Gichin Funakoshi , conheceu um rapaz de quem ficou muito amigo. Esse rapaz era filho de Yasutsune Azato, um dois maiores especialistas de Okinawa na arte do Karaté, e membro de uma família das mais respeitadas. Logo Funakoshi começava a ter as suas primeiras lições de Karaté. Como na época a prática de artes marciais era proibida em Okinawa, os treinos eram realizados à noite, no quintal da casa do Mestre Azato. Lá ele aprendia a dar socos, dar pontapés, e mover-se conforme os métodos praticados naqueles dias. O treino era muito rigoroso e o Mestre Azato tinha uma filosofia de treino que se chamava "Hito Kata San Nen", ou seja, "um Kata em três anos".

Enquanto praticava no quintal de Azato com outros jovens, outro gigante do Karaté, Mestre Itosu, amigo de Azato, aparecia e observava-os fazendo os Katas, fazendo comentários sobre as suas técnicas. Era uma rotina dura que terminava sempre de madrugada sob a disciplina rígida do mestre Azato, do qual o melhor elogio se limitava a uma única palavra: "Bom!". Após os treinos, já quase ao amanhecer, Azato falava sobre a essência do Karaté.

Após vários anos, a prática do Karaté deu uma grande contribuição à saúde de Funakoshi, que fora uma criança muito frágil e doentia. Ele gostava muito do Karaté, mas como não pensava que pudesse fazer dele uma profissão, inscreveu-se, e foi aceite, como professor de uma escola primária, em 1890, aos 21 anos, aproveitando toda a sua cultura adquirida desde a infância. Esta deveria ser sua carreira a partir de então.

Prestou exame na Escola de Medicina de Tóquio, no qual foi aprovado, mas devido a uma nova lei que proibia aos homens o porte do CHON MAGE (símbolo de virilidade e da maturidade) não pôde realizar os seus estudos. E por esse motivo voltou-se para a pratica e estudo aprofundado do Karaté , no qual se tornaria posteriormente seu representante máximo. Ele tinha uma personalidade marcante e alguns aspectos como uma natural benevolência, uma distinção de maneiras, uma ímpar gentileza e respeito por todos, além de uma energia forte, muita coragem, determinação e uma força mental altamente capacitada, que o tornaram uma figura que, para muitos, era sinônimo de alguém "mais que humano", um "tatsujin" (indivíduo fora do comum) que contrastava ainda mais as suas virtudes com o seu pequeno porte físico (1,67m. para 67 Kg.), sendo admirado por seus contemporâneos.

No começo deste século, em 1902, durante a visita de Shintaro Ogawa, que era então o inspetor escolar de Kagoshima, à escola de Funakoshi em Okinawa, foi feita uma demonstração de Karaté. Funakoshi impressionou bastante devido ao seu status de educador. Ogawa ficou tão entusiasmado que escreveu um relatório ao Ministério da Educação elogiando as virtudes da arte. Foi então que o treino de Karaté passou a ser oficialmente autorizado nas escolas. Até aí o Karaté só era praticado atrás de portas fechadas, mas isso não significava que fosse um segredo. As casas em Okinawa eram muito próximas umas das outras, e tudo que era feito numa casa era conhecido pelas outras casas adjacentes.

Contra os pedidos de muitos dos mestres mais antigos de Karaté, que eram a favor de manter tudo em segredo, Funakoshi trouxe o Karaté, com a ajuda de Itosu, até o sistema de escolas públicas. Logo, as crianças na escola estavam aprendendo os Katas como parte das aulas de Educação Física. A redescoberta da herança étnica em Okinawa era moda, então as aulas de Karaté em Okinawa eram vistas como uma coisa boa.

Alguns anos depois, o Almirante Rokuro Yashiro (na altura Capitão) assistiu a uma demonstração de Karaté. Essa demonstração foi feita por Funakoshi junto com uma equipa composta pelos seus melhores alunos. Enquanto ele narrava, os outros executavam os Katas, quebravam telhas e, geralmente, chegavam ao limite dos seus pequenos corpos. Funakoshi enfatizava sempre o desenvolvimento do caráter e a auto-disciplina nas suas narrações, durante essas demonstrações. Quando ele participava, gostava de executar o Kata Kanku Dai, o maior do Karaté, e talvez o mais representativo. Yashiro ficou tão impressionado que ordenou a seus homens que iniciassem o aprendizado na arte.

Em 1912, a Primeira Esquadra Imperial da Marinha ancorou na Baía de Chujo, sob o comando do Almirante Dewa, que selecionou doze homens da sua tripulação para estudarem Karaté durante uma semana. Foi graças a esses dois oficiais da Marinha que o Karaté começou a ser comentado em Tokyo. Os japoneses que viam essas demonstrações levavam as histórias sobre o Karaté consigo quando voltavam ao Japão. Pela primeira vez na sua história, o Japão acharia algo na sua pequena possessão de Okinawa além de praias bonitas e o ar puro.

Em 1921, o então Príncipe Herdeiro Hirohito, em viagem para Europa, fez escala em Okinawa e assistiu uma demonstração de Karaté, liderada por Funakoshi, e ficou muito impressionado. Por causa disso, no final desse mesmo ano, Funakoshi foi convidado para fazer uma demonstração de Karaté em Tokyo, numa Exibição Atlética Nacional. Ele aceitou imediatamente, acreditando ser esta uma ótima oportunidade para divulgar a arte. Sua demonstração de Kata foi um sucesso. Ele pretendia retornar logo para Okinawa mas, depois da exibição, Funakoshi foi cercado por pedidos para ficar no Japão ensinando Karaté. Uma das pessoas que pediu para que ele ficasse foi Jigoro Kano, o fundador do JuDo e presidente do Instituto Kodokan. Funakoshi resolveu ficar mais alguns dias para fazer demonstrações técnicas no próprio Kodokan.

Algum tempo depois, quando se preparava novamente para retornar a Okinawa, foi visitado pelo pintor Hoan Kosugi, que já tinha assistido a uma demonstração de Karaté em Okinawa, e pediu que ele lhe ensinasse a arte. Mais uma vez o seu regresso foi adiado. Funakoshi percebeu então que se ele quisesse ver o Karaté propagado por todo o Japão ele mesmo teria que fazê-lo. Por isso, resolveu ficar em Tokyo até que a sua missão fosse cumprida.

Kosugi foi uma das pessoas que convenceram Funakoshi a ensinar Karaté no Japão.

Ele também o convenceu a registrar todo o seu conhecimento num livro e prometeu presenteá-lo com uma pintura para a capa. Essa pintura, o Tora No Maki ("Tora" em japonês quer dizer tigre, e "Maki" em japonês quer dizer rolo ou enrolado), foi usada para ilustrar a capa do livro "Karate-Do Kyohan" para simbolizar força e coragem. A irregularidade do círculo indica que provavelmente ele foi pintado com uma única pincelada. O carácter ao lado da cauda do tigre (em cima à direita) é parte da assinatura do artista.


No Japão, Funakoshi foi ajudado por Jigoro Kano, o homem que reuniu muitos estilos diferentes de Ju Jutsu para criar o Judo. Kano tornou-se amigo íntimo de Funakoshi, e sem a sua ajuda nunca teria havido Karaté no Japão. Kano introduziu Funakoshi às pessoas certas, levou-o às festas certas, caminhou com ele através dos círculos sociais da elite japonesa. Mais tarde, naquele ano, as classes mais altas dos japoneses convenceram-se do valor que o treino do Karaté possuia. Funakoshi fundou um Dojo de Karaté num dormitório para estudantes de Okinawa, em Meisei Juku. Ele fez vários trabalhos, entre eles o de jardineiro, para se poder alimentar, enquanto ensinava Karaté à noite.

Em 1922, fora escolhido para representar a arte de Okinawa numa apresentação em Tóquio para demonstrar a arte do Karaté. Como já tinha mais de cinquenta anos, não correspondia, ao mito do "budoka terrível" que o Japão procurava fazer sobreviver, na época, mas, mesmo assim, a sua apresentação foi muito bem sucedida. Muitos aspectos da personalidade de Funakoshi passaram a ser conhecidos, através de histórias, por aqueles que conviviam com ele, como por exemplo Genshin Hironishi, seu discípulo, que dizia que o seu mestre se opunha às gerações vindas após a Segunda Guerra Mundial, pois continuava a seguir hábitos da sua época, anterior a Primeira Guerra Mundial. Dizia ele que Funakoshi se recusava a frequentar uma cozinha ou a pronunciar certas palavras japonesas modernas, existentes na sua época, dizendo que sem elas passava muito bem. Uma outra peculiaridade interessante no seu comportamento, é que a primeira coisa que ele fazia era a sua toalete matinal que durava cerca de uma hora, durante a qual escovava os cabelos com infinita paciência, depois voltava-se em direção ao Palácio Imperial e saudava-o com respeito, inclinando-se e fazia a mesma saudação a Okinawa. Depois desses rituais tomava o chá da manhã, e ia trabalhar.

O Sensei Funakoshi deixou-nos muitos pensamentos que espelham a filosofia do Karaté e as suas técnicas, bem como a sabedoria oriental. Além disso, deixou-nos dois importantes caminhos que levam à uma vida harmoniosa, são eles o "DOJOKUN" e o "NIJUKUN" que são os lemas do Karaté, os quais devem ser seguidos por todos os praticantes do Karaté:

DOJOKUN

Esforçar-se pela formação do caráter

Ser uma pessoa conhecida por ajudar os outros é muito mais importante que ser conhecido por ter força ou por conseguir dar pontapés e socos bonitos. Ser querido é melhor que ser temido. Tornar-se uma boa pessoa é o mais importante de tudo para o karateca. Praticar o Karaté para obter principalmente paciência, perseverança, concentração e humildade. Em combate, desenvolver a humildade, a piedade, o controle.

Criar o Intuito do esforço.

Mesmo quando não se está a dar conta é muito importante estar sempre a tentar desenvolver a habilidade que não se possui. Quando se tem pouca paciência, é suportando gradualmente cada vez mais que se aumenta. Quando se é fraco, é suportando uma carga um pouco maior que se vai conseguir fortalecer. Esforçar implica ir além dos limites, sejam eles físicos ou espirituais. Este item deve ser treinado principalmente fora do DOJO: esforçar-se mais na escola (no estudo e no comportamento), em casa (no respeito e na obediência), e no trabalho.

Respeitar acima de tudo.

A essência do Karaté-Do é a cortesia, porque o seu propósito é o aperfeiçoamento pessoal ("Não nos aperfeiçoamos para lutar, mas lutamos para nos aperfeiçoar."), e este aperfeiçoamento deve revelar-se em todos os aspectos da pessoa. A pessoa deve pensar de modo mais correcto, sentir de modo mais harmonioso, conseguir movimentar-se com mais equilíbrio e precisão e relacionar-se com os outros de modo mais sensato. Não devem importar os motivos mas o nosso comportamento final. Por isto o "acima de tudo". Quem segue verdadeiramente este preceito não vai justificar depois uma conduta desrespeitosa, mas vai sempre demonstrar nas atitudes a ideia que abraça.

Conter o espírito de agressão.

As pessoas possuem em si o instinto animal que as impele a comportar-se como tal, e o animal agride quando ferido ou quando seu espaço pessoal é invadido e neste comportamento ele muitas vezes se expõe à morte. O homem, por ser superior (potêncialmente superior), se ofendido, tem a opção de chamar o ofensor à razão ou procurar uma situação mais confortável longe dele, se provocado, pode procurar uma visão diferente que o permita entender quem o está a provocar. Só quem busca conter o lado animal é que realmente pode alcançar toda a dimensão do Karaté-Do, porque, quando se está vazio de todos os pensamentos e intenções premeditadas, se pode refletir o mínimo impulso que sobre ele se projeta.

Fidelidade para com o verdadeiro caminho da razão.

A razão é a faculdade de avaliar, julgar, estabelecer relações lógicas e entender, e é um atributo exclusivo da espécie humana. O karateca busca tornar-se cada vez mais humano e, ao mesmo tempo que combate o lado animal, cultiva o espiritual. Tenta assim buscar os motivos, entender as consequências, refletir as atitudes, compreender o mundo e a vida enfim. O que distingue um aluno de um mestre ou sensei é que o sensei "nasceu antes" para a vida de reflexão em torno dos motivos que regem a vida.

NIJUKUN

Os 20 ensinamentos do Mestre Funakoshi

HITOTSU - KARATEDO WA REI NI HAJIMARI REI NI OWARU KOTO WO WASURUNA

Não se esqueça que o Karaté se deve iniciar com uma saudação e terminar com uma saudação.

HITOTSU - KARATE NI SENTE NASHI

No Karaté não existe atitude ofensiva.

HITOTSU - KARATE WA GI NO TASUKE

O Karaté é um assistente da justiça.

HITOTSU - MAZU JIKO WO SHIRE SHIKOSHITE TAO WO SHIRE

Conheça-se a si próprio antes de julgar os outros.

HITOTSU - GIJUTSU YORI SHINJUTSU

O espírito é mais importante do que a técnica.

HITOTSU - KOKORO WA HANATAN WO YOSU

Evitar o descontrole do equilíbrio mental.

HITOTSU - WAZAWAI WA GETAI NI SHOZU

Os infortúnios são causados pela negligência.

HITOTSU - DOJO NO MI NO KARATE TO OMOUNA

Karaté não se limita apenas à academia.

HITOTSU - KARATE NO SHUGYO WA ISSHO DE ARU

O aprendizado do Karaté deve ser perseguido durante toda a vida.


HITOTSU - ARAI YURU MONO WO KARATEKA SEYO SOKO NI MYOMI ARI

O Karaté dará frutos quando associado à vida quotidiana.

HITOTSU - KARATE WA YU NO GOTOSHI TAEZU NETSUDO WO ATAEZAREBA MOTO NO MIZU NI KAERU

O Karaté é como a água quente. Se não receber calor constantemente torna-se água fria.

HITOTSU - KATSU KANGAE WA MOTSUNA MAKENU KANGAE WA HITSUYO

Não pense em vencer, pense em não ser vencido.

HITOTSU - TEKI NI YOTTE TENKA SEYO

Mude de atitude conforme o adversário.

HITOTSU - TATAKAI WA KYOJITSU NO SOJU IKAN NI ARI

A luta depende do manejamento dos pontos fracos (KYO) e fortes (JITSU).


HITOTSU - HITO NO TEASHI WO KEN TO OMOU

Imagine que os membros dos seus adversários são como espadas.

HITOTSU - DANSHIMON WO IZUREBA HYAKUMAN NO TEKI ARI

Para cada homem que sai do seu portão, existem milhões de adversários.

HITOTSU - KAMAE WA SHOSHINSHA NI ATO WA SHIZENTAI

No início os seus movimentos são artificiais, mas com a evolução tornam-se naturais.

HITOTSU - KATA WA TADASHIKU JISSEN WA BETSUMONO

A prática de fundamentos deve ser correcta, porém na aplicação torna-se diferente.

HITOTSU - CHIKARA NO KYOJAKU KARADA NO KANKYU WAZA NO SHINSHUKU WO WASURUNA

Não se esqueça de aplicar correctamente: alta e baixa intensidade de força, expansão e contracção corporal, técnicas lentas e rápidas.



HITOTSU - TSUNE NI SHINEN KUFU SEYO

Estudar, praticar e aperfeiçoar-se sempre.



Em 1922, a pedido do pintor Hoan Kosugi, Funakoshi publicou o seu primeiro livro: "Ryukyu Kenpo Karaté", um livro que tratava dos propósitos e da prática do Karaté. Na introdução daquele livro ele já dizia que "...a pena e a espada são inseparáveis como as duas rodas de uma carroça".

O grande terremoto de Kanto, em 1º de setembro de 1923 destruiu as placas do seu livro, e levou alguns dos seus alunos com ele. Ninguém morreu com o tremor, os incêndios provocaram as mortes. O terremoto ocorreu durante a hora do almoço, no momento muitos fogões a gás no Japão estavam ligados. Os incêndios que ocorreram a seguir foram monstruosos, e maioria das vidas perdidas deveu-se ao fogo. Contudo, este livro teve grande popularidade e foi revisto e reeditado quatro anos após o seu lançamento, com o título alterado para: "Rentan Goshin Karaté Jutsu".

Em 1925, Funakoshi começou a pegar em alunos de vários colégios e universidades na área Metropolitana de Tokyo, e nos anos seguintes, esses alunos começaram a fundar os seus próprios clubes e a ensinar Karaté a estudantes destas escolas. Como resultado, o Karaté começou-se a espalhar por Tokyo.

No início da década de 30 existiam clubes de Karaté em cada universidade de prestígio de Tokyo. Mas por que estava Funakoshi a conseguir tantos jovens interessados no Karaté desta vez? O Japão estava a fazer uma Guerra de Colonização na Bacia do Pacífico. Eles invadiram e conquistaram a Coréia, a Manchúria, a China, o Vietnam, a Polinésia, e outras áreas. Então, os jovens que iam para a guerra vinham ter com Funakoshi para aprender a lutar, assim eles poderiam sobreviver ao recrutamento nas Forças Armadas Japonesas. O seu número de alunos aumentou bastante.

Por volta de 1933, Funakoshi desenvolveu exercícios básicos para prática das técnicas em duplas. Tanto o ataque de cinco passos "Gohon Kumite" como o de um "Ippon Kumite" foram usados. Em 1934, um método de praticar esses ataques e defesas com colegas de um modo menos restricto, semi-livre "Ju Ippon Kumite", foi adicionado ao treino. Finalmente, em 1935, um estudo de métodos de luta livre (Ju Kumite) com oponentes finalmente tinha começado. Até então, todo o Karaté treinado em Okinawa era composto basicamente de Katas. Mas agora, os alunos poderiam experimentar as técnicas dos Katas uns com os outros sem causar danos sérios.

Nesta época, em 1935, foi publicado outro livro: "Karaté-Do Kyohan". Este livro tratava basicamente dos Katas. Funakoshi era Taoísta, e ele ensinava Clássicos Chineses, como o Tao Te Ching de Lao Tzu, enquanto estava a viver em Okinawa. Funakoshi era profundamente religioso. Ele tinha muito medo que o Karaté se tornasse um instrumento de destruição, e provavelmente queria eliminar do treino algumas aplicações mortais dos Katas. Então, ele parou de fazer essas aplicações. Ele também começou a desenvolver estilos de luta que fossem menos perigosos. Funakoshi teve sucesso ao remover do Karaté técnicas de quebras de juntas, de ossos, dedos nos olhos, chaves de cotovelo, esmagamento de testículos, criando um novo mundo de desafios e luta em equipa onde somente umas poucas técnicas seriam permitidas. Ele fez isso baseado nos seus propósitos e com total conhecimento dos resultados.

Em 1936, Funakoshi mudou os caracteres Kanji utilizados para escrever a palavra Karaté. O caracter "Kara" significava "China", e o caracter "Te" significava "Mão". Para popularizar mais a arte no Japão, ele mudou o caracter "Kara" por outro, que significa "Vazio". De "Mãos Chinesas" o Karaté passou a significar "Mãos Vazias", e como os dois caracteres são lidos exactamente da mesma maneira, então a pronúncia da palavra continuou a mesma. Além disso, Funakoshi defendia que o termo "Mãos Vazias" seria o mais apropriado, pois representa não só o facto de o Karaté ser um método de defesa sem armas, mas também por representar o espírito do Karaté, que é esvaziar o corpo de todos os desejos e vaidades. Com essa mudança, Funakoshi iniciou um trabalho de revisão e simplificação, que também passou pelos nomes dos Katas, pois ele também acreditava que os japoneses não dariam muita atenção por qualquer coisa que tivesse a ver com o dialeto caipira (do interior) de Okinawa. Por isso ele resolveu mudar não só nome da arte mas também os nomes dos Katas. Ele estava certo, e o número de praticantes aumentou ainda mais.

Funakoshi tinha 71 anos em 1939, e foi nessa altura que ele deu o primeiro passo num Dojo de Karaté, a 29 de Janeiro. O prédio foi feito de doações particulares, e uma placa foi pendurada sobre a entrada e dizia: "Shotokan". "Sho" significa pinheiro. "To" significa ondas ou o som que as árvores fazem quando o vento bate nelas. "Kan" significa edificação ou salão. "Shoto" (ondas de pinheiro) era o pseudonimo que Funakoshi usava para assinar os seus textos quando jovem, pois quando ele ia escrevê-los recolhia-se em lugares mais afastados, onde pudesse ir buscar inspiração, ouvindo apenas o som dos pinheiros ondulando ao vento. Esse nome dado ao Shotokan Karaté Dojo foi uma homenagem dos seus alunos. Daí surgiu o nome de uma escola (estilo) que até hoje é cultivada em várias partes do mundo. SHOTO (pseuDonimo de Funakoshi) e KAN (escola, classe). A "Escola de Funakoshi".

A necessidade de um treino nas artes militares estava em crescimento. Muitos jovens se estavam a amontoar no Dojo, vindos de todas as partes do Japão. O Karaté progrediu muito nessa onda de militarismo e estava a desfrutar de uma aceitação acelerada como resultado.

Finalmente o Japão cometeu um grande erro. O bombardeamento das forças navais americanas em Pearl Harbor a 7 de Dezembro de 1941 foi um erro. Numa tentativa de prevenir que as embarcações americanas bloqueassem a importação japonesa de matéria-prima, os japoneses tentaram remover a frota americana e varrer a influência Ocidental do próprio Oceano Pacífico. O plano era bombardear os navios de guerra e os porta-aviões que estavam no território do Hawai. Isto deixaria a força da América no Pacífico tão fraca que a nação iria pedir a paz para prevenir a invasão do Hawai e do Alasca. Infelizmente, o pequeno Japão não tinha os recursos, força humana, ou a capacidade industrial dos Estados Unidos. Com uma mão nas costas, os americanos destruíram completamente os japoneses na Ásia e no Pacífico. Uma das vítimas dos ataques aéreos foi o Shotokan Karaté Dojo que havia sido construído em 1939.

Com a América a execer uma enorme pressão em Okinawa, a esposa de Funakoshi finalmente iria deixar a ilha e juntar-se a ele em Kyushu no Sul do Japão. Eles ficaram lá até 1947. Os americanos destruíram tudo que encontraram no seu caminho. As ilhas foram bombardeadas do ar, todas as cidades queimadas até o fim, as colinas crivadas de balas pelos cruzadores de guerra que se situavam bem longe da costa, e então as tropas varreram a ilha, prendendo todas as pessoas que estivessem vivas. A era dourada do Karaté em Okinawa tinha acabado. Todas as artes militares haviam sido banidas rapidamente pelas forças ocupantes americanas.

Primeiro uma, depois outra bomba atómica explodiram sobre as cidades de Hiroshima e Nagasaki. Três dias depois, bombardeiros americanos sobrevoaram Tokyo em tal quantidade que chegaram a cobrir o Sol. Tokyo foi bombardeada com dispositivos incendiários. Descobrindo que o governo do Japão estava a ponto de cometer um suicídio virtual sobre a imagem do Imperador, cartas secretas foram passadas para os japoneses garantindo sua segurança se eles assinassem uma "rendição incondicional". O Japão estava acabado, a Guerra do Pacífico também, mas o pesadelo de Funakoshi ainda havia de acabar.

Nesta época, Gigo (também conhecido como Yoshitaka, dependendo como se pronunciava os caracteres do seu nome), filho de Funakoshi, um promissor jovem mestre de Karaté no seu próprio direito, aquele que Funakoshi estava a contar para o substituir como instrutor do Shotokan, apanhou tuberculose em 1945 e posteriormente veio a falecer, porque teimosamente recusava-se a comer a ração americana dada ao povo japonês faminto.

Funakoshi e sua esposa tentaram viver em Kyushu, uma área predominantemente rural, sob a ocupação americana no Japão. Mas, em 1947, ela morre, deixando Funakoshi retornar a Tokyo para reencontrar os seus alunos de Karaté ainda vivos. Depois da guerra acabar, as artes militares tinham sido completamente banidas. Entretanto, alguns dos alunos de Funakoshi tiveram sucesso em convencer as autoridades de que o Karaté era um desporto inofensivo. As autoridades americanas concederam então, o recomeço da prática do Karaté, porque não tinham idéia realmente do que era o Karaté e porque também, alguns homens estavam interessados em aprender as artes militares secretas do Japão, então as proibições foram eliminadas completamente em 1948.

Em Maio de 1949, os alunos de Funakoshi movem-se para organizar todos os clubes de Karaté universitários e privados numa simples organização, e eles a chamaram de Nihon Karaté Kyokai (Associação Japonesa de Karaté). Eles nomearam Funakoshi como o seu instrutor chefe. Em 1955, um dos alunos de Funakoshi consegue arranjar um Dojo para a NKK.

Em 1957, Funakoshi tinha 89 anos de idade. Ele foi um professor de escola primária e um estudante de Karaté. Ele mudou-se para o Japão (e não é um pequeno acto de coragem) e trouxe o Karaté consigo em 1922, dando ao Japão algo de Okinawa com o seu próprio jeito pacifista. No processo, ele perdeu um filho, a esposa, o prédio que os seus alunos fizeram para ele, o seu lar, e qualquer esperança de uma vida pacífica. Ele suportou uma Guerra Mundial que resultou em calamidade nacional, e ele treinou os seus jovens amigos e conheceu as suas famílias apenas para os ver ir lutar e serem mortos pelas forças invencíveis dos Estados Unidos. Ele viu o Japão ser queimado, ele viu os antigos templos e santuários serem totalmente aniquilados, ele viu bombardeiros enegrecerem o sol, e ele viu como um pilar de fumo negro que subia de cada cidade no Japão e que envenenava o ar que ele respirava. Ele viu o Japão cair da glória para uma nação miserável, dependendo dos suprimentos de comida e das roupas dos seus conquistadores. O cheiro do fumo e o cheiro dos mortos, os berros daqueles que foram deixados para morrer lentamente, o choro das mães que perderam os seus filhos e das esposas que nunca mais iriam ver os seus maridos, o medo, o ruído ensurdecedor dos bombardeiros B-29's a voar sobre a sua cabeça aos milhares, os clarões como os de trovões por todo o país quando as bombas explodiam em áreas residenciais, os flashes de luz na escuridão, à espera no rádio para poder ouvir a voz do Imperador pela primeira vez, somente para anunciar a rendição, a humilhação de implorar comida aos soldados... os intermináveis funerais e famílias arruinadas e lares destruídos. Tentemos imaginar o que ele suportou!

A lição mais importante que ele nos ensinou está expressa numa das suas histórias narradas por um de seus discípulos: Uma vez quando passava pelo Dojo principal de Jigoro Kano, "o fundador do Judo", ao caminhar pela rua, ele parou e fez uma pequena prece em frente ao Kodokan. Também se estivesse a conduzir um automóvel, ele tiraria o seu chapéu se passasse em frente ao Kodokan. Os seus alunos não entenderam porque estaria ele a rezar pelo sucesso do Judo. Então ele explicou: "Eu não estou a rezar pelo Judo. Eu estou a oferecer uma prece em respeito ao espírito de Jigoro Kano. Sem ele, eu não estaria aqui hoje".

Gichin Funakoshi, o "Pai do Karaté Moderno", morreu em 26 de Abril de 1957. No seu túmulo negro, em forma de cruz, estão as palavras "Karaté Ni Sente Nashi" – "No Karaté não existe atitude ofensiva".

"Alguém cujo espírito e força mental, se fortaleceram através das lutas com uma atitude de nunca desanimar não deve encontrar dificuldades em enfrentar algum desafio, por maior que ele seja. Alguém que suportou longos anos de sofrimento físico e agonia mental para aprender um soco ou um pontapé, deve ter condições de encarar qualquer tarefa, por mais difícil que ela seja, e de executá-la até o fim. Sem dúvida nenhuma, uma pessoa com essas características aprendeu verdadeiramente o Karaté-Do."

A Emergência do Sistema de Graduações


McCARTHY (1995), enfatiza que o actual uso do cinto (obi) à volta do "kimono" (karate-gi) tem raízes no fundador do Judo. Jigoro Kano introduz a inovação de distinguir os diferentes níveis de prática através do desenvolvimento do sistema dan/kyu.

O dan ou cinto negro, indicava um nível de prática avançado e os seus possuidores tornam-se conhecidos como yudansha (recipientes de dan); as graduações de kyu representavam os diversos níveis de competência abaixo do dan, sendo conhecidos como mudansha (aqueles que ainda não receberam o dan).

Segundo apurou o autor já citado, depois de estabelecer o kodokan, Sensei Kano distribuía faixas negras aos seus yudansha para serem usadas no dogi (uniforme de prática) estandardizado e, após 1907, a faixa negra é substituída pelo kuro-obi (cinto negro) que se torna o standard até hoje.

TOKITSU (1993) refere-nos que quando Gichin Funakoshi é convidado em 1921 pelo Sensei Kano para fazer uma demonstração de okinawa-karaté-jutsu no kodokan a 17 de Maio, por um lado, confeccionou à mão o seu kimono a partir de um tecido branco de algodão, tendo como modelo um judogi (assim como confeccionou o do seu assistente S. Gima), e, por outro lado, utilizou um cinto negro por indicação do próprio Jigoro Kano (curiosamente não utilizou o de um Judoka - Gima era cinto negro de Judo - mas sim o do seu quimono de cidade).

TOKITSU (1993) salienta ainda que no início, Jigoro Kano só utilizava o sistema de cinco graus de dan e não o sistema de dez como actualmente se usa. Em 1883 Kano com 23 anos atribui o grau de 1º dan pela primeira vez aos seus alunos Tomita e Saigo.

Quanto a Funakoshi, por influência e conselho directo de J. Kano, desenvolve um sistema de graduações equivalente ao Judo e atribui em 1924 os primeiros diplomas de 1º dan a Kasuya e Gima. É a primeira vez que se passam diplomas de graduação em karaté.

Os outros mestres de karaté fazem progressivamente o mesmo. No início, como no caso do Judo, com um sistema de cinco graus, mas posteriormente, esse sistema passará na maioria das escolas para dez graus.

É ainda de referir que para além do sistema dan/kyu, outros títulos foram atribuídos no seio de algumas organizações, de entre as quais se destaca indiscutivelmente a Dai Nippon Butokukai (Associação Japonesa das Grandes Virtudes Marciais). Fundada em 1895, recebe do governo autorização para "investigar, preservar e promover os bugei Japoneses; fazer exibições e torneios; recolher armas, equipamentos e informações históricas sobre as tradições clássicas de combate; e publicar materiais relacionados com as artes marciais" (McCARTHY, 1995, p. 6 - tradução nossa).

Os títulos gerais desenvolvidos no seio da organização foram, do mais alto para o mais baixo: Hanshi, Kyoshi (originalmente conhecido como Tasshi) e, a partir de 1934, foi adicionado o título de Renshi.

O reconhecimento do karatejutsu de Okinawa como uma Arte Marcial Japonesa estava dependente dos critérios de desenvolvimento da modalidade que o Butokukai lançou aos seus mestres:

Desenvolver um uniforme standard;

Adoptar o sistema de graduações dan/kyu de J. Kano;

Estabelecer um sistema de ensino/avaliação;

Mudar o primeiro ideograma e adicionar o sufixo do;

Criar um formato competitivo seguro para testar o espírito dos seus estudantes.

Após o encontro destes critérios de desenvolvimento da modalidade em Dezembro de 1933, abriram-se as portas para o reconhecimento do karatedo como um Budo Japonês moderno e assim, reconhecer os mestres de Karaté como mestres de Budo.

Em 1935, segundo TOKITSU (1993), Chojun Miyagi apresenta-se para fazer exame para um título de Mestre de Budo no Butokukai, sendo a primeira pessoa a apresentar-se em Karaté, disciplina ainda não reconhecida como budo. Obtém o título de kyoshi (segundo nível) o que, para o mesmo autor, é excepcional já que os fundadores das outras três escolas obtêm apenas o título de renshi (terceiro nível) - Hironori Ohtuka (Wado-Ryu) obtém-o em 1938, Kenwa Mabuni (Shito-Ryu) e Gichin Funakoshi (Shotokan) em 1939. Nesta época tais títulos eram indispensáveis para a consolidação do reconhecimento do Karaté como budo.

Por fim, e antes de concluirmos estes considerandos iniciais, gostaríamos de evidenciar que, do ponto de vista mais objectivo, a graduação no Butokukai era, e ainda é, a "avaliação do progresso individual rumo à obtenção da perfeição humana através da prática das tradições de luta. Esta avaliação não é apenas baseada em aspectos físicos, mas procura ter em conta o desenvolvimento dos aspectos físico, moral e espiritual do ser humano: o objectivo de cultivar pelo budo o nosso mundo interior é um esforço para evoluir no mundo exterior" (McCARTHY, 1995, p. 7 - tradução nossa).

Assim, no âmbito da problemática central em análise, poderemos concluir:

O sistema de graduações no Karaté desenvolve-se a partir de modelos comuns aos restantes budo, sendo de destacar a enorme influência de Jigoro Kano (fundador do Judo) no estabelecimento do sistema dan/kyu (inicialmente com cinco níveis de dan, e depois com dez).

O sistema de graduações do Karaté (dan/kyu) nasce com um propósito técnico claro, procurando distinguir os níveis de prática dos praticantes, mas encerra também um propósito político: o reconhecimento público oficial da modalidade.

O sistema de graduações dos mestres de budo (três níveis: hanshi, renshi e kyoshi) emerge como forma de reconhecimento público dos mestres das diversas disciplinas reconhecidas pelo Butokukai e, na época, para os mestres de Karaté, tais títulos eram importantes, colocando-os a par como os mestres de Judo ou Kendo no âmbito de uma organização governamental.

A Origem das Faixas Coloridas no Aikido Por Don Cunningham




Tradução feita por Cristiano Lobo – Instituto Takemusu Dojo Central

Lendas e mitos floresceram junto com a prática de artes marciais, tais como o judo e o karate, desde o começo. Ainda, parece não haver significância maior do que aquela associada com as origens místicas da cobiçada faixa preta. Para o espanto de muitos praticantes de artes marciais, a história da faixa preta é um tanto pequena no contexto geral...

Muitas histórias existem a respeito da honrada faixa peta em vários estilos de artes marciais. Uma das mais comuns que se ouve é a de que o artista marcial novato começou tradicionalmente com uma faixa branca. Como ele treinou e praticou durante anos, a faixa tornou-se suja, primeiramente marrom e finalmente preta assim que aperfeiçoou suas habilidades marciais. Apesar dessa extraordinária metáfora ter sido fornecida com um pouco de folclore, infelizmente, não se tem nenhuma fonte verídica. As faixas coloridas nunca fizeram parte da antiga tradição das artes marciais.

Na verdade, a faixa preta foi usada primeiramente para designar a habilidade ou o grau no Judo Kodokan há pouco mais de cem anos. O Dr. Jigoro Kano, um educador e entusiasta do esporte, foi o primeiro a usar a faixa preta como um símbolo para os estudantes graduados e possuidores de Dan em sua escola, a Kodokan, fundada em 1882, em Tokyo. Antes disto, as escolas de Jujutsu, como a maioria das outras escolas de artes japonesas tradicionais, utilizavam o complicado sistema de Menkyo como uma forma de licenciar os estudantes aos níveis técnicos de habilidades particulares.

Uma compreensão do sistema educacional japonês e das circunstâncias sociais requerem uma perspectiva histórica. O treinamento sistemático de guerra e de armas desenvolveu-se primeiramente nas tradições marciais, escolas, ou estilos (ryu ha) entre os séculos 11 e 15. Os Samurais reuniram-se em clãs, centrados em torno das famílias ou regiões, para o treinamento de armas específicas e técnicas marciais. Assim que o treinamento se tornou mais distinto e individual, os estilos marciais ou escolas (bujutsu ryu) começaram a se formar no início do período Tokugawa (1600-1868).

Antigas artes marciais do Japão foram eventualmente classificadas em dezoito ramificações diferentes, como mencionadas no Bugei Ju-Happan. Basicamente, estas categorias são: kyujutsu, hojutsu, tantojutsu, naginatajutsu, mojirijutsu, bajutsu (horsemanship), sojutsu, shurikenjutsu, ganshinjutsu, toritejutsu, kusarigamajutsu, bojutsu, shinobijutsu, suijutsu, kenjutsu (swordsmanship), battojutsu, jutte-jutsu, jujutsu. Paralelamente, muitas escolas de outras artes, tais como a caligrafia (shodo), pintura (sumi-e), ou as formas de cerimônia do chá (chado), foram criadas também para disseminar suas técnicas e estilos distintos. Estas escolas também usaram o sistema do Menkyo para licenciar seus graduados.

Geralmente os estudantes destes antigos ryu ha foram primeiramente licenciados como Shoden. Seus rankings progrediram então com Chuden, Okuden/Mokuroku, Menkyo, e finalmente, Menkyo Kaiden, o último significado, literalmente, "licença da transmissão total." Entretanto, cada ryu ha seguiu seus próprios critérios para licenciar estudantes. A seqüência particular e mesmo os vários títulos eram frequentemente diferentes entre si.

As Graduações (rank) eram designadas geralmente por certificados especialmente criados ou por cartas escritas à mão do professor ou fundador. Frequentemente, os níveis mais elevados eram acompanhados da apresentação de um Densho, pergaminhos de instruções manuscritas ou de registros dos segredos dos fundadores das várias escolas. Alguns Densho forneciam instruções detalhadas e ilustrações gráficas de técnicas particulares. Outros usavam palavras e/ou caracteres descritivos que serviam como uma ajuda à memória para técnicas avançadas (memória minemônica). Os últimos documentos originais eram sem sentido às pessoas não familiarizadas com a linguagem particular dos ryu ha.

Devido à natureza sigilosa dos vários ryu ha e seus instrutores, o sistema de graduação do menkyo teve várias desvantagens. Primeiramente, não havia nenhuma maneira de avaliar ou comparar níveis de habilidade equivalentes dos graduados das escolas diferentes. Adicionalmente, as etapas entre licenças separadas podiam levar o praticante a qualquer lugar de alguns meses a diversos anos, dependendo da filosofia ou do estilo particular do professor.

Em sua juventude, Kano aprendeu primeiramente as bases do jujutsu de Teinosuke Yagi. Mais tarde, estudou o jujutsu de Tenshin Shinyo Ryu sob Hachinosuke Fukuda e Masatomo Iso, bem como o jujutsu Kito Ryu sob Tsunetoshi Iikubo. Foi iniciado nos segredos de ambas as escolas.

Após ter fundado sua própria escola; o Kodokan em 1882, Dr. Kano fez também estudos acadêmicos de muitos outros estilos do jujutsu. Além a visitar e praticar com os mestres ainda vivos, examinou com cuidado o Densho dos outro ryu ha de jujutsu. Logo depois que se decidiu dar forma a seu próprio estilo de jujutsu, Dr.. Kano revisou também o sistema de graduação (ranking), criando dez etapas com os intervalos relativamente curtos para manter os estudantes de judo interessados em progredir através dos vários níveis técnicos.

Em 1883, o Dr. Kano dividiu seus estudantes em dois grupos, dos não-graduados (mudansha) e dos graduados (yudansha), de acordo com Naoki Murata, diretor do museu de judo do Kodokan. Os primeiros yudansha, ou grau Shodan, eram dois estudantes famosos no Kodokan nesse tempo, nomeados Tsunejiro Tomita e Shiro Saigo. Estes dois estudantes foram também os primeiros promovidos a segundo dan um ano mais tarde.

Shiro Saigo, imortalizado no romance de ficção de Tsuneo Tomita, o "Sugata Sanshiro," e nas adaptações nos filmes de Akira Kurosawa (década de 40) sobre os infames torneios entre o judo e o jujutsu, pulou o terceiro dan e foi promovido diretamente a quarto dan no ano seguinte, em 1885, relata Muraka. Neste período, todas as graduações de Dan foram anunciadas diretamente pelo Dr. Kano ou fixadas em placas no Kodokan.

As faixas pretas não foram usadas como símbolos de graduação Dan no Kodokan até 1886 ou 1887, relembra Muraka, sobre a época dos torneios metropolitanos da polícia de Tokyo entre a escola de jujutsu fundada por Hikosuke Totsuka e pelo Kodokan do Dr. Kano. Após a vitória decisiva do Kodokan, os certificados ou os diplomas não foram emitidos pelo Kodokan até 1894, quase onze anos após a criação do sistema de graduação Dan do judo.

Eventualmente, a habilidade ou o nível do judoka vieram a ser denotados pelas faixas coloridas usadas em torno da cintura com o judogi. No Japão, as faixas brancas são geralmente usadas por todas as graduações de kyu, embora algumas escolas usem também a faixa marrom para indicar os níveis mais elevados do kyu. As faixas azul, amarela, alaranjada, verde, e roxa usadas pelos níveis intermediários do kyu tiveram origem na Europa e foram importadas para o sistema dos Estados Unidos durante o início dos anos 50.

As faixas pretas são tradicionalmente usadas pelos praticantes competitivamente graduados, primeiro dan (shodan) até o quinto dan (godan). Uma faixa vermelha e branca é usada pelos níveis merecidos pelo serviço prestado ao judo, sexto dan (rokudan) até o oitavo dan (hachidan), e as faixas inteiramente vermelhas são reservadas para o nono dan (kudan) e o décimo dan (judan).

O karate incorporou ambos os sistemas, a graduação Dan e o uso da faixa preta, quando Gichin Funakoshi, o mestre do karate de Okinawa, primeiramente demonstrou e mais tarde ensinou a base de sua arte marcial de Okinawa no Japão durante a década de 20 no Kodokan. O sistema de graduação Dan foi eventualmente incorporado ao Kendo (a arte da espada), ao Aikido, e à maioria das outras artes tradicionais.

A origem das faixas coloridas, bem como, o significado das cores particulares, ainda é encoberta de mistérios, e pode permanecer perdida na história. Embora não tenha deixado nenhuma razão registrada para as várias cores usadas, o Dr. Kano deixou alguns indícios. De acordo com sua doutrina filosófica, não há limites para as melhorias e para o progresso que se pode ter no seu treinamento de judo. Assim, o Dr. Kano acreditou que se alguém conseguisse um estágio mais elevado do que o décimo dan, retornaria conseqüentemente à faixa branca, terminando desse modo o círculo completo do judo, como o ciclo da vida.

No caso desta eventualidade, deve-se salientar que o Kodokan decidiu que a faixa usada por tal pessoa deveria ser aproximadamente duas vezes mais larga que a faixa comum, para impedir que os novatos confundissem o significado. Até agora, o Dr. Kano é a única pessoa com a graduação de décimo segundo dan e com o título de Shihan.

O Dr. David Matsumoto, autor de “An introduction to Kodokan history and philosophy", cita uma combinação de duas possibilidades para o uso tradicional das faixas brancas, o significado simbólico da cor e dos aspectos práticos da produção do uniforme.

“Primeiramente, o branco teve um significado especial, simbólico na cultura japonesa por séculos”, Dr. Matsumoto escreve. "O povo japonês considera geralmente a cor branca como sendo o reflexo da pureza divina desde épocas antigas."

Assim, as faixas brancas podem ser mais apropriadas para refletir a pura inocência e virtude dos iniciantes, de acordo com o Dr. Matsumoto. Pode também refletir a seleção do algodão usado no material do judogi. Após o uso e lavagem freqüente, o material colorido ou amarelo natural do algodão tende a tornar-se branco.

Uma suposição não-autêntica a respeito das faixas pretas usadas pelos níveis Dan é que o Dr. Kano emprestou o conceito dos esportes japoneses das escolas de ensino médio. Os competidores avançados eram separados dos novatos em torneios de natação por uma fita preta usada em torno da cintura. Como um distinto educador e entusiasta dos esportes, o Dr. Kano estava certamente ciente desta tradição e pode tê-la incorporado em suas práticas no Kodokan.

A seleção das faixas vermelhas e brancas para distinguir os níveis mais elevados pode também ter sido baseada em uma preferência cultural simples, de acordo com Meik Skoss, um notável historiador das artes marciais e autor de artigos numerosos sobre artes marciais japonesas. Os Japoneses dividem tipicamente grupos em lados vermelhos e brancos, baseados em um evento histórico pivotante. A Genpei War era uma disputa entre dois clãs rivais, o Genji e Heike. O Genji usava as bandeiras brancas para identificar suas tropas no campo de batalha, enquanto o Heike usava bandeiras vermelhas.

Como exemplos, o Sr. Skoss aponta o semestral jogo Kouhaku Shiai do Kodokan, onde os estudantes de judo são divididos em dois grupos, vermelhos e brancos. Esta competição teve início logo depois que o Kodokan foi formado e transformou-se em um evento tradicional. Além do mais, os competidores no judo moderno são distinguidos por uma faixa branca ou vermelha na cintura, enquanto que os competidores do kendo são identificados por um tasuki vermelho ou branco, uma fita pequena amarrada à parte traseira da armadura.

Dr. Kano tinha uma afinidade particular por idiomas e grande interesse acadêmico em literatura clássica Chinesa, especialmente o I Ching, ou Livro das Mutações. O I Ching é basicamente uma coleção de sabedorias morais e políticas baseadas no conceito dos opostos mútuos, o Yin e o Yang. A escolha das faixas vermelhas e brancas feita pelo Dr. Kano deve ter sido uma representação simbólica do princípio da harmonia indicado pelo equilíbrio de Yin e Yang.

Por outro lado, a criação do sistema de graduação Dan do Dr. Kano deve ter representado uma rejeição radical à cultura japonesa e uma maneira deliberada de diferenciar seu novo e melhorado sistema, dos estilos tradicionais de Jujutsu, de acordo com Skoss.

" A era Meiji foi uma época de grandes mudanças sociais, econômicas e políticas – e Kano estava certo no meio disso tudo," disse Skoss. "Ele foi um inovador em seus métodos e teve alguns problemas óbvios com a cultura feudal japonesa. Por exemplo, ele não ficava feliz com a maneira que muitos praticantes de jujutsu eram como os Punks das ruas, e que usavam o que tinham aprendido para extorquir dinheiro dos transeuntes ou para satisfazer seus egos distorcidos."

Como um educador e um racionalista, que desdenhou superstições sem fundamentos, Dr. Kano quis criar um sistema de treinamento que não fosse prejudicar o físico de seus alunos e também levasse ao desenvolvimento de um padrão moral elevado e um forte caráter individual. Ainda, ela estava em conflito com os ryu mais antigos de Jujutsu, mas, sentiu muito que a tradição cultural tinha sido validamente preservada . Sua adoção de um sistema novo de graduação deve ter sido uma rejeição às tradições do Jujutsu e uma preservação da hierarquia tradicional japonesa.

" A sociedade japonesa é verticalmente estruturada" Skoss explica. "Um forte senso de posição relativa está presente em toda a interação social, e símbolos de graduação também tem sido parte de uma cultura voltada para o período Heian e até mesmo antes."

Skoss citou a adoção dos níveis de hierarquia encontrados nos mais antigos relatos da soberania Imperial Japonesa, bem como os chapéus coloridos denotando níveis e fortes regulamentações indicando relações de graduação durante esses períodos. A utilização das faixas coloridas pelo Dr. Kano para denotar níveis de graduação deve ter sido desenvolvida a partir dessas tradições, de acordo com Skoss.

Seja qual for a razão, a obtenção da faixa preta ainda representa uma significante evolução em habilidades técnicas e habilidades competitivas para a maioria dos Judokas de todo o mundo. Contudo, como todos os Judokas graduados com Shodan rapidamente aprendem, isto também representa um passo inicial no caminho para uma consciência superior e um grande aperfeiçoamento, e que pode levar uma vida inteira de dedicação.

TOMIKI AIKIDO E O JUDO



A visão de Kenji Tomiki do Aikido e a visão de Jigoro Kano do Judo

Kenji Tomiki escreveu em seu trabalho “Aikido Nyumon” (Introdução para Aikido) que ele olhou o Aikido pelo ponto de vista de Jigoro Kano , que estabeleceu o Judo. Comecemos com nossa olhada na visão de Jigoro Kano.

Jigoro Kano aprendeu Tenjin Shinyo-ryu Jujutsu e Kito-ryu Jujutsu em sua juventude em 1882, ele iniciou o desenvolvimento do Judo Kodokan (a base para o Judo moderno) enquanto estudava outro bujutsu. Em 1887, ele clarificou oque o Judo deveria ser comparado com as velhas escolas de Jujutsu. Ele disse que a meta do Judo é atingir as três seguintes coisas: Taiiku ho (condicionamento físico), Shushin ho (o cultivo da mente) e Shobu ho (o caminho da luta).

Se você domina Shobu ho, você pode se defender quando atacado e incapacitar ou até mesmo matar alguém.
Kano pensou que outras escolas de Jujutsu focavam-se somente no Shobu ho. Ele insistiu que o Budo moderno necessitava das três disciplinas e o Judo é o melhor caminho de atingir esse objetivo. Ele definil o Judo como O caminho do Seiryoku Zenyo (o caminho mais eficiente do uso da mente e do corpo, ou eficiência máxima com mínimo esforço). Você pode construir condicionamento físico e cultivar a sua mente pela aproximação científica e racional do Judo. Todas as coisas que você pode aplicar nesse principio são o uso prático do Judo e uma parte dele.

Seguindo essa linha de pensamento, Kano colocou adiante dois métodos de treinamento. O primeiro é o Randori Judo, no qual os estudantes podem praticar livremente algumas projeções limitadas e técnicas de aprisionamento. O outro é o kata Judo, no qual os estudantes podem praticar vários estilos de técnicas pré-arranjadas. Kano compôs muitos katas no Judo Kodokan apartir do velho Jujutsu. Um deles, Kime no Kata, inclui técnicas que são bem conhecidas atualmente no Aikido. Isso sugere que as técnicas do Aikido são basicamente as mesmas do Jujutsu. Kano estudou várias técnicas por muito tempo, destacando e respeitando a filosofia do Judo Kodokan.

Quando Kano visitou o Dojo em Meijirodai em 1930 e viu Morihei Ueshiba praticando Aikido, ele disse que esse era o Budo ideal. Ele o entendeu como parte do Judo porque o Daito-ryu de Ueshiba era parte do Jujutsu e o Judo foi criado através do desenvolvimento do Jujutsu. Isso foi como encontrar um tesouro.

Naqueles dias, o Jujutsu havia quase desaparecido, assim Kano ficou muito feliz de ver o Aikido de Ueshiba. Ele enviou Minoru Mochizuki e Jiro Takeda para o dojo de Ueshiba em seu nome e estudaram as técnicas de Ueshiba na Kodokan. Sua atitude foi incrível – ele pesquisou e analizou cientificamente todos os tipos de técnicas. Como resultado, ele não só desenvolveu o Judo como também passou para a posteridade a essencia do Jujutsu.

Por exemplo, ele preservou Yoroi Kumiuchi no Kata vindo do Kito-ryu Jujutsu como o Koshiki no Kata no Judo. Ele obteve sua grandeza como um educador moderno que com sua postura, estabeleceu um estilo moderno de Jujutsu, como o Judo, enquanto prestava atenção as tradições.

Através do trabalho de Tomiki nós podemos ver que sua concepção de Aikido foi baseada na filosofia do Judo de Kano. Seguindo sua própria história, nós olhamos para o processo através do qual Tomiki desenvolveu o Aikido de acordo com seu ponto de vista educacional.

Os dias de treino de Kenji Tomiki

Tomiki nasceu em Kakunodate, prefeitura de Akita em 1900 onde ainda existem algumas velhas residencias samurais. Ele se familiarizou com o Budo em sua infância e iniciou no Judo quando tinha dez anos de idade. Depois disso, ele continuou treinando como um membro do club de Judo Junior na Universidade de Waseda. Seu companheiro de turma Tsunesaburo cocoyam (antigo presidente da Universidade de Waseda) disse que ele foi tanto um bom Judoca quanto um bom estudante. Em seus dias de Universidade, o clube de Judo de Waseda estava na sua era dourada. Ele as vezes conseguia vitórias consecutivas nas competições mensais e de meio de ano na primavera e outono na Kodokan.

Ele encontrou Kano em tais ocasiões e foi atraido por sua personalidade. Ele também ficou interessado no Jujutsu tradicional sob a influência de Kano . Essas coisas mais tarde o fizeram estudar o Aikido.

No verão de 1925, Hedetaro Kubota que foi um de seus amigos no clube de Judo da Universidade de Waseda, falou a Tomiki sobre um destacado praticante de Budo em Ayabe. Essa história o interessou e ele convidou Ueshiba , com a apresentação de Kubota, quando Ueshiba veio de Tokyo no outono de 1925. Tomiki ficou muito impressionado com sua técnica, que era diferente do Judo, e ele se juntou a escola de Ueshiba. Ele praticou no dojo de Ueshiba em Gotanda com seu irmão mais novo Kenzaburo dia após dia.


Texto baseado nas informações contidas no livro:
AIKIDO: Tradition And The Competitive Edge
Uso autorizado pelos autores:
Fumiaki Shishida e Tetsuro Nariyama

Os Samurais

O termo samurai corresponde à elite guerreira do Japão feudal. A palavra samurai vem do verbo Saburai, que significa "aquele que serve ao senhor". A classe dos samurais, dominou a história do Japão por cerca de 700 anos, de 1185 à 1867. E ao longo desse período, os samurais exerceram diferentes funções em determinadas épocas, passando de duelistas à soldados de infantaria da corte imperial, equipados inclusive com armas de fogo.

No início, os samurais realizavam atividades minoritárias tais como, as funções de cobradores de impostos e servidores da corte imperial. Com o passar do tempo, o termo samurai foi sancionado e os primeiros registros, datam do século X, situando-os ainda como guardiões da corte imperial, em Kyoto e como membros de milícias particulares a soldo dos senhores provinciais. Nessa época, qualquer cidadão poderia tornar-se um samurai. Este cidadão por sua vez, teria que se engajar nas artes militares para então, por fim, ser contratado por um senhor feudal ou daimyo, mas enquanto isso não acontecia, esses samurais, eram chamados de ronin.

Na Era Tokugawa (1603), quando os samurais passaram a constituir a mais alta classe social (bushi), não era mais possível à um cidadão comum, tornar-se samurai, pois o título "bushi", começou a ser passado de geração em geração. Só um filho de samurai poderia tornar-se samurai e este tinha direito a um sobrenome. Desde o surgimento dos samurais, só estes tinham direito a um sobrenome, mas com a ascensão dos samurais como uma elite guerreira sob os auspícios da corte imperial, todos os cidadãos passaram a ter um sobrenome.

A partir desta época, a posição do samurai consolidou-se como um grupo seleto da sociedade. As armas e armaduras que usavam eram símbolos de distinção e a manifestação de ser um samurai. Porém para armar um samurai era necessário mais que uma espada e uma armadura. Parte de seu equipamento, era psicológico e moral; eram regidos por um código de honra muito precioso, o bushido (caminho do guerreiro), no qual a honra, lealdade e coragem eram os princípios básicos. A espada era considerada a alma do samurai. Todo bushi (nome da classe dos samurais), portava duas espadas presas ao Obi (faixa que segura o quimono), o katana (espada longa - de 60 a 90 cm) e wakisashi (de 30 a 60 cm), essas espadas eram o símbolo-distintivo do samurai.

Os samurais não tinham medo da morte, que era uma conseqüência normal e matar fazia parte de suas obrigações. Porém, deveriam morrer com honra defendendo seu senhor, ou defendendo a própria reputação e o nome de seus ancestrais. Se viessem a falhar ou cometessem um ato de desonra para si próprio, manchando o nome de seu senhor ou familiares, o samurai era ensinado a cometer o Harakiri ou Seppuku, ritual de suicídio através do corte do ventre.

Se um samurai perdesse o seu Daymio (título dado ao senhor feudal, chefe de um distrito) por descuido ou negligência na hora de defende-lo, o samurai era instruído a praticar o harakiri. Entretanto, se a morte do Daymio não estivesse relacionada à ineficiência ou falta de caráter do samurai, este se tornava um ronin, ou seja, um samurai que não tinha um senhor feudal para servir, desempregado. Isto era um problema, pois não conseguindo ser contratado por outro senhor e não tendo quem provesse seu sustento, freqüentemente tinha que vender sua espada para poder sobreviver ou se entregar ao bandidismo.

Nos campos de batalha assim como em duelos, os combatentes enfrentavam-se como verdadeiros cavalheiros. Na batalha, um guerreiro costumava galopar até a linha de frente inimiga para anunciar sua ascendência, uma lista de feitos pessoais, bem como as façanhas do seu exército ou de sua facção. Depois de encerrada tais bravatas é que os guerreiros atacavam-se. O mesmo acontecia num duelo. Antes de entrar em combate, os samurais se apresentavam, reverenciavam seus antepassados e enumeravam seus feitos heróicos para depois entrarem em combate.

Fora do campo de batalha, o mesmo guerreiro que colhia cabeças como troféu de combate era também um fervoroso budista. Membro da mais alta classe, empenhava-se em atividades culturais, como arranjos florais (ikebana), poesia, além de assistir a peças de teatro nô, uma forma de teatro solene e estilizada para a elite e oficiar cerimônias do chá, alguns se dedicavam a atividades artísticas tais como a escultura e a pintura.

Em seus castelos, os daimyo, patrocinavam saraus com pintores, dramaturgos e intelectuais. Assistiam a espetáculos privados de teatro nô. Os generais samurais praticavam caligrafia, arranjos florais e tocavam uma espécie de alaúde. Mas de todas essas atividades, a que mais os envolviam era a cerimônia do chá. Por volta do século XIII, monges zen-budistas introduziram os rituais do chá no Japão. A cerimônia do chá é uma atividade espiritual e durante o raro momento de trégua da guerra, os samurais vinham às salas de chá pra relaxar e apreciar o momento.

O estilo de vida e a tradição militar dos samurais dominaram a cultura japonesa durante séculos, e permanecem vivos no Japão até os dias de hoje. Milhões de crianças em idade escolar ainda praticam as habilidades clássicas do guerreiro, entre elas a esgrima (kendo), arco-e-flecha (kyudo) e luta corporal desarmada (jiu-jitsu, aikido). Estas e outras artes marciais, fazem parte do currículo de educação física no Japão atual.

Hoje o espírito samurai continua vivo na sociedade. Através desse espírito, que o Japão é hoje uma das maiores potencias mundiais.


fonte; Institututo Niten

Miyamoto Musashi


Musashi nasceu para se tornar o maior samurai de todos os tempos.

Desde a sua primeira luta, prenunciando o que seria sua vida futura, aos treze anos de idade, conheceu o sabor da vitória. Suas lutas quase sempre terminavam com a morte do rival. Esses atos, aos nossos olhos, podem até parecer cruéis, mas para os samurai, a morte era encarada com naturalidade. Musashi foi concebido com glória da iluminação, por meio do Kendo, e com isso desenvolveu uma visão precisa da realidade, premiada com uma conduta digna e honrosa.

Miyamoto Musashi foi um mestre no caminho da espada, buscou a perfeição na arte da esgrima até sua fama alcançar as principais cortes do Japão. Criou um estilo de luta com duas espadas, chamado Niten Ichi Ryu e quando suas habilidades com suas espadas, longa e curta e com a lança tornaram-no invencível, o guerreiro mais temido de todo o Japão, retirou-se e se dedicou a escrever o livro Go Rin No Sho, O livro dos Cinco Anéis, um clássico da literatura japonesa, aonde deixa um legado de sua técnica às futuras gerações. Shimen Musashi no Kami Fushiwara no Genshin, teve inúmeros combates, o primeiro deles foi aos treze anos de idade, contra Arima Kihei, um samurai da escola xintoísta Ryu. Participou da batalha de Sekigahara, no qual sobreviveu ao massacre sobre sua facção derrotada e continuou trilhando o seu bushido.

Lutou contra a família Yoshioka. Seijuro, foi o primeiro da família a enfrentar Musashi, que empunhava uma espada de madeira, ao contrário de Seijuro, que portava uma espada de boa qualidade. Musashi derrubou e espancou Seijuro furiosamente. Após sua vitória, permaneceu na capital, esse comportamento irritou muito os Yoshiokas. Densichiro foi o segundo do clã a desafiar Musashi, que depois do início da luta quebrou o crânio do oponente que morreu imediatamente. Uma terceira luta foi proposta, agora contra Hansichiro, filho de Seijuro. Musashi chegou mais tarde ao local do duelo e se escondeu. O garoto havia chegado bem antes com um grupo de homens bem armados. Quando julgaram ter Musashi, se evadido do duelo, eis que ele surge e mata o menino. Depois, com suas duas espadas, causou ferimentos e mortes entre o grupo e fugiu, essa foi a primeira vez que Musashi usou as duas espadas simultaneamente.

Em 1605, após derrotar Oku Hozoin, monge discípulo de Hoin Inei, Musashi passou algum tempo estudando as técnicas dos sacerdotes lanceiros. Na província de Izumo, após derrotar o campeão local Matsudaria, permaneceu um tempo como professor desse senhor, mas o duelo mais famoso de Musashi, foi em 1612 em Ogura, província de Bunzen, contra Sasaki Kojiro, dono de uma técnica de esgrima conhecida como Tsubame-gaeshi. O local do duelo era uma ilha próxima de Ogura. Musashi, durante a viajem para chegar ao local, esculpiu uma espada a partir do remo existente no barco. Estava com uma aparência suja, pouco ortodoxa. Todos, inclusive Kojiro se surpreenderam com sua figura. Musashi correu sobre seu oponente que lançou a espada fora da bainha e em seguida se desfez da própria bainha. A partir daí, Musashi constatara a própria vitória. Com um golpe desferido pela sua espada feita do remo, Musashi abriu o crânio de Ganryu Kojiro, que caiu morto.

O duelo contra Muso Gonnosuke, um dos maiores manejadores do bastão de todos os tempos, foi um dos mais famosos também. Tanto Musashi como Gonnosuke, afirmam enfaticamente em seus livros que, no dia do duelo, foram derrotados um pelo outro, já que ninguém saiu vencedor desse duelo. Depois, Gonnosuke tornou-se um dos melhores amigos de Musashi, e criou o Bojutsu.

Filosofia das Artes Marciais

Deixe-me iniciar com uma historia Zen
A historia pode ser um pouco familiar, porem eu a repito, por ela se enquadrar adequadamente ao que pretendo explicar.
Veja esta historia como um processo sobre a liberdade total, do senso das atitudes e da mente, produzindo a eles flexibilidade e receptividade.
È preciso entender isto porque, você poderá esquecer algo mais tarde.
Vamos La !!
Um culto homem uma vez, foi a um mestre do Zen para investigar sobre o Zen.
Enquanto o mestre explicava, o culto homem o interrompia freqüentemente com observações como: O sim,nos sabemos isto também, e assim por diante.
Finalmente o mestre do Zen parou de falar e começou a servir chá a o culto homem. O mestre despejou na xícara por completo, até a xícara encher e transbordar.
“Não pode por mais!”
Exclamou o culto homem.
_ De fato, eu vejo, respondeu o mestre do Zen.
“Se você não esvaziar sua xícara, como poderá você, experimentar do meu chá?”
Espero que tenha lido o parágrafo atrás, e descoberto todo seu integro de preceitos, opiniões e conclusões.
Este ato, apropósito, é um liberalismo de poder, pois após toda utilidade da xícara é o seu vazio.
Este artigo esta sendo relatado a você, porque, ele é primeiramente relacionado com o desabrochar das artes marciais.
Uma arte marcial é primeiramente humana. Apenas quero dizer que nacionalidade nada tem haver com artes marciais.
Deixe sua casca protetora e de isolamento e relacione-se diretamente com que foi dito.
Volte seus sentimentos para o todo, para não perder de vista a grandiosidade de seu intelecto.
Se você começar a investigar cada coisa, sem cessar sua critica em aceitar formulas que ditam, Isto e Isto e Aquilo é Aquilo.
E a liberdade de expressão é como a água, que se adapta a qualquer forma, isto é, KATA.
Pois [é a forma amorfa, ou seja, forma sem nenhuma forma.
Em primeira analise você pode não compreender estas palavras, contudo, você deve abrir sua mente, procurar pesquisar a verdade das coisas, pois, você pode adquirir muito da vida se estiver preparado para dar muito a fim de obtê- lo.
Quando se tenta explicar a alguém o que é artes marciais, encontra-se alguma dificuldade pois é como descobrir sobre a si próprio. É o alto descobrimento.

domingo, 19 de julho de 2009

Poema do Templo de Shaolin

"Para trilhar o caminho do real sabedoria,
primeiro deves encontrar um sólido cavalo.
Seus olhos devem ver tudo em toda direção
e treine suas mãos para a sua proteção.
Antes de fazer qualquer coisa,
faça de puro coração.
Suas mãos devem ser suaves como o algodão,
e duras como o aço.
Cinco portas para o corpo você tem que sentir.
Faça de sua defesa, um ataque para o seu adversário.
Ataque os oito caminhos e evite a morte,
defenda os oito caminhos e evite a morte.
A pratica desenvolverá e conservará sua perícia,
como duas serpentes num combate sem fim.
Só assim você encontrará a satisfação de Buda."

O Jovem Samurai:

"Um jovem samurai perguntou ao seu mestre: Como me torno o melhor guerreiro? O mestre então respondeu: Estas vendo aquela pedra ali? Então vai até a pedra e xingue bastante. O jovem samurai foi, xingou a pedra, e retornou ao mestre. O mestre perguntou: O que foi que ela fez? O Jovem respondeu: Nada! Então o mestre disse: Pega tua espada e ataque ela, com vários golpes. O jovem destruiu a espada contra a pedra. O jovem samurai retornou ao mestre e disse: Nada Aconteceu! O mestre disse: Para seres o melhor guerreiro, tens que ser como aquela pedra, teres a frieza de não reagir diante de atos e palavras, e te tornarás imbatível..."

A Diferença entre a Força e Coragem

É preciso ter força para ser firme,
mas é preciso coragem para ser gentil.

É preciso ter força para se defender,
mas é preciso coragem para baixar a guarda.

É preciso ter força para ganhar uma guerra,
mas é preciso coragem para se render.

É preciso ter força para estar certo,
mas é preciso coragem para ter dúvida.

É preciso ter força para manter-se em forma,
mas é preciso coragem para ficar de pé.

É preciso ter força para sentir a dor de um amigo,
mas é preciso coragem para sentir as próprias dores.

É preciso ter força para esconder os próprios males,
mas é preciso coragem para demonstrá-los.

É preciso ter força para suportar o abuso,
mas é preciso coragem para fazê-lo parar.

É preciso ter força para ficar sozinho,
mas é preciso coragem para pedir apoio.

É preciso ter força para amar,
mas é preciso coragem para ser amado.

É preciso ter força para sobreviver,
mas é preciso coragem para viver.

A Lenda do Monge e do Escorpião

Monge e discípulos iam por uma estrada e, quando passavam por uma ponte, viram um escorpião sendo arrastado pelas águas. O monge correu pela margem do rio, meteu-se na água e tomou o bichinho na mão. Quando o trazia para fora, o bichinho o picou e, devido à dor, o homem deixou-o cair novamente no rio. Foi então a margem tomou um ramo de árvore, adiantou-se outra vez a correr pela margem, entrou no rio, colheu o escorpião e o salvou. Voltou o monge e juntou-se aos discípulos na estrada. Eles haviam assistido à cena e o receberam perplexos e penalizados.

"Mestre, deve estar doendo muito! Porque foi salvar esse bicho ruim e venenoso? Que se afogasse! Seria um a menos! Veja como ele respondeu à sua ajuda! Picou a mão que o salvara! Não merecia sua compaixão!"

O monge ouviu tranqüilamente os comentários e respondeu:

"Ele agiu conforme sua natureza, e eu de acordo com a minha."

A Rosa

Um certo homem plantou uma rosa e passou a regá-la constantemente e, antes que ela desabrochasse, ele a examinou.
Ele viu o botão que em breve desabrocharia, mas notou espinhos sobre o talo e pensou:
“Como pode uma bela flor vir de uma planta rodeada de espinhos tão afiados?"
Entristecido por este pensamento, ele se recusou a regar a rosa, e, antes que estivesse pronta para desabrochar, ela morreu.

Assim é com muitas pessoas.
Dentro de cada alma há uma rosa: as qualidades dadas por Deus e plantadas em nós crescendo em meio aos espinhos de nossas faltas.
Muitos de nós olhamos para nós mesmos e vemos apenas os espinhos, os defeitos.
Nós nos desesperamos, achando que nada de bom pode vir de nosso interior.
Nós nos recusamos a regar o bem dentro de nós, e conseqüentemente, isso morre.
Nós nunca percebemos o nosso potencial. algumas pessoas não vêem a rosa dentro delas mesmas; alguém mais deve mostrá-la a elas.

Um dos maiores dons que uma pessoa pode possuir ou compartilhar é ser capaz de passar pelos espinhos e encontrar a rosa dentro de outras pessoas.
Esta é a características do amor. Olhar uma pessoa e conhecer suas verdadeiras faltas.
Aceitar aquela pessoa em sua vida, enquanto reconhece a beleza em sua alma e ajudá-la a perceber que ela pode superar suas aparentes imperfeições.

Se nós mostrarmos a essas pessoas a rosa, elas superarão seus próprios espinhos. Só assim elas poderão desabrochar muitas e muitas vezes.

O copo d'água

O velho Mestre pediu a um jovem triste que colocasse uma mão cheia de sal em um copo d'água e bebesse.
- "Qual é o gosto?" perguntou o Mestre.
- "Ruim " disse o aprendiz.
O Mestre sorriu e pediu ao jovem que pegasse outra mão cheia de sal e levasse a um lago. Os dois caminharam em silêncio e o jovem jogou o sal no lago, então o velho disse:
- "Beba um pouco dessa água". Enquanto a água escorria do queixo do jovem, o Mestre perguntou:
- "Qual é o gosto?"
- "Bom!" disse o rapaz.
- Você sente gosto do "sal" perguntou o Mestre?
- "Não" disse o jovem.
O Mestre então sentou ao lado do jovem, pegou sua mão e disse:

A dor na vida de uma pessoa não muda. Mas o sabor da dor depende do lugar onde a colocamos. Então quando você sentir dor, a única coisa que você deve fazer é aumentar o sentido das coisas. Deixe de ser um copo...
Torne-se um lago...

Viva Como as Flores

-Mestre, como faço para não me aborrecer?
Algumas pessoas falam demais, outras são ignorantes. Algumas são indiferentes. Sinto mau sentimento das que são mentirosas. Sofro com as que caluniam.
-Pois viva como as flores!, advertiu o mestre.
-Como é viver como as flores? Perguntou o discípulo.
-Repare nestas flores, continuou o mestre, apontando lírios que cresciam no jardim. Elas nascem no esterco, entretanto são puras e perfumadas. Extraem do adubo malcheiroso tudo que lhes é útil e saudável, mas não permitem que o azedume da terra manche o frescor de suas pétalas.
É compreensível angustiar-se com as próprias culpas, mas não é sábio permitir que os vícios dos outros o importunem. Os defeitos deles são deles e não seus. Se não são seus, não há razão para aborrecimento. Exercite, pois, a virtude de estirpar todo mal que vem de fora.
-Isso é viver como as flores!

Doutor Jigoro Kano sensei


JUDÔ

Jigoro Kano nasceu em 28 de outubro de 1860, em Mikage no Japão, terceiro filho de Jirosaku Mareshiba Kano, alto funcionário da marinha imperial Japonesa. Embora de personalidade marcante, possuía físico franzino, medindo 1,50 metros de estatura e pesando apenas 48 kg, o que dificultava e o afastou de outros esportes. Em 1870 com 10 anos de idade foi para Tóquio para estudar o inglês.
Aos 16 anos, decidiu fortificar o corpo, praticando a ginástica e o remo, mas sua estatura e constituição física não ajudava na prática estes esportes.
Jigoro Kano era filho de samurai e como era sistematicamente vencido nas disputas físicas no colégio decidiu estudar Jiu Jitsu com o mestre Teinosuke Yai.
Em em 1877 foi treinar na Tenshin Shinyo Ryu com o soke Hachinosuke Fukuda.
Em 1879, com a idade de 82 anos, Fukuda morreu e Jigoro Kano herdou seus livros com todas as técnicas de sua escola. Tornou-se em seguida aluno do mestre Masatomo Iso, um sexagenário que possuía os segredos de uma escola derivada também do Teshin Shinyo Ryu.
Continuando o seu treinamento, Jigoro Kano torna-se vice-presidente da escola. Infelizmente, Masatomo Iso, morreu muito cedo e Kano novamente encontrou-se sem professor. Contudo Kano continuou a treinar intensamente, mas um bom professor lhe era indispensável. Foi então que procurou o mestre Tsunetoshi Likugo que lhe ensinou a técnica da escola Kito Ryu. Como Kano até então só praticara sempre as lutas corpo a corpo, sempre usando roupas normais, a escola de Kito ensinou-lhe o combate com armadura. Pouco a pouco, Kano fez a síntese das diversas escolas criando um sistema próprio de disciplina, continuando, no entanto a treinar com o mestre Likugo até 1885.
Em fevereiro de 1882, Jigoro Kano inaugura sua primeira escola denominada Kodokan (Instituto do Caminho da Fraternidade). A Kodokan estava localizada no segundo andar de um templo budista Eishoji de Kita Inaritcho, bairro de Shimoya em Tóquio.
O primeiro aluno inscreveu-se em 05 de junho de 1882, chamava-se Tomita. Depois vieram Higushi, Arima, Nakajima, Matsuoka, Amano Kai e o famoso Shiro Saigo (Sugata Sashiro). As idades oscilavam entre 15 e 18 anos. Kano albergou-se e ocupou-se deles como se fosse um pai. Foi um período difícil, mas apaixonante, o jovem professor não tinha dinheiro e o dojo media 20m², mas a escola progrediu e em breve tornou-se célebre.

Texto de Jigoro Kano em uma de suas conferências ( 1898 ).
Eu estudei jujutsu não somente porque o achei interessante, mas também, porque compreendi que seria o meio mais eficaz para a educação do físico e do espírito. Porém, era necessário aprimorar o velho jujutsu, para torná-lo acessível a todos, modificar seus objetivos que não eram voltados para a educação física ou para a moral, nem muito menos para a cultura intelectual. Por outro lado, como as escolas de jujutsu apesar de suas qualidades tinham muitos defeitos - concluí que era necessário reformular o jujutsu mesmo como arte de combate. Quando comecei a ensinar o jujutsu estava caindo em descrédito. Alguns mestres desta arte ganhavam a vida organizando espetáculos entre seus alunos, por meio de lutas, cobrando daqueles que quisessem assistir. Outros se prestavam a ser artistas da luta junto com profissionais de sumô. Tais práticas degradantes prostituíam uma arte marcial e isso me era repugnante. Eis a razão de ter evitado o termo jujutsu e adotado o do judô. E para distinguí-lo da academia Jikishin Ryu, que também empregava o termo judô, denominei a minha escola de Judô Kodokan, apesar de soar um pouco longo.
Jigoro Kano desenvolveu as técnicas de amortecimento de quedas (ukemis), bem como criou uma vestimenta especial para o treino do judô (o judogui), pois o uniforme utilizado pelos cultores de jujutsu, denominado hakamá provocava freqüentemente ferimentos. A nova arte do mestre tinha duas formas distintas, uma abrangia as técnicas de queda, imobilizações, chaves e estrangulamentos. Essa forma evoluiu para o esporte e a outra parte consistia nas técnicas de golpear com as mãos e os pés, em combinações com agarramentos e chaves para imobilização, inclusive ataques em pontos vitais, atemi-waza. Essa forma evoluiu para a defesa pessoal, goshin-jutsu.
Jigoro Kano nos legou vários manuscritos, nos quais em geral assinava com pseudônimos, dentre estes, um muito usado por ele era “Ki Itsu Sai” que quer dizer, tudo é unidade. Kano também era poliglota, pois falava quatro línguas além do japonês, francês, alemão, inglês e espanhol. Lamentavelmente a 04 de maio de 1938, morre Jigoro Kano de problemas pulmonares, a bordo do transatlântico “Hikawa Maru”, quando voltava do Cairo, onde havia presidido a assembléia geral do comitê internacional dos jogos olímpicos. Não houve para ele tempo de assistir a Universidade do Judô, mas tinha certeza da sua perpetuação. “Quando eu morrer, o Judô Kodokan não morrerá comigo, porque muitas coisas virão a ser desenvolvidas se os princípios de minha arte continuarem sendo estudados”.

CRONOLOGIA DO MESTRE JIGORO KANO:
1860 - Nasceu em Mikage, prefeitura de Hyogo em 28 de outubro. Terceiro filho de Jirosaku Mareshiba Kano, ele recebeu o nome de infância Shinnosuke.
1871 - Ingressou na Seitatsu Shojuku, uma escola privada de Tóquio, onde ele recebeu aulas de Keido Ubukata.
1873 - Entrou na Ikuei Gijuku, uma escola privada em Karasumori, Shiba, Tóquio. Recebeu instruções especiais em Inglês e Alemão de professores nativos.
1874 - Ingressou na escola de línguas estrangeiras de Tóquio.
1875 - Ingressou na escola Kaisei.
1877 - Ingressou na escola Tenshin Shin’Yo e estudou com Hachinosuke Fukuda.
1878 - Fundou o primeiro clube de basebol do Japão (Kasei Baseball Club).
1879 - Estudou o jujutsu na escola do mestre Masatomo Iso.
1881 - Formou-se pela Universidade Imperial de Tóquio, em Literatura, Ciências Políticas e Política Econômica. Estudou o jujutsu na escola Kyto-Ryu com o mestre Tsunetoshi Likugo.
1882 - Começou a dar palestras e mais tarde passou a professor em Gakushuin. Fundou a Kodokan. Terminou seus estudos de Ciências Estéticas e Morais.
1883 - Fundou o Kobukan, uma escola para estudantes chineses e passou a ser Diretor.
1884 - É adido ao Palácio Imperial.
1885 - Obteve a 7ª Categoria Imperial.
1886 - Passou a vice-diretor da Gakushuin. Obteve a 6ª Categoria Imperial.
1889 - Deixou de ser vice-diretor em Gakushuin para aceitar na Casa Imperial um cargo. Fez uma viagem à Europa, onde visitou organizações educacionais.
1891 - Casou-se com Sumako, filha mais velha do então embaixador coreano, Seizei Takezoe, da qual teve nove filhos, seis meninas e três meninos. Tornou-se diretor da quinta escola de segundo grau, na prefeitura de Kumamoto. Em abril é nomeado conselheiro do Ministro da Educação Nacional.
1893 - Tornou-se diretor da primeira escola de segundo grau de Tóquio, subseqüentemente diretor da escola normal de Tóquio.
1895 - Obteve a 5ª Categoria Imperial.
1897 - Demitiu-se da escola normal de Tóquio, mas tarde, aceita seu cargo de volta. Criou a sociedade Zoshi-Kai e funda os institutos Zenyo Seiki, Zenichi, para a cultura dos jovens. Editou a revista “Kokusai”.
1898 - Foi diretor da educação primária no Ministério da Educação Nacional.
1899 - Tornou-se presidente da comissão do Butokukai (Centro de Estudos das Artes Marciais).
1901 - Tornou-se diretor da escola normal de Tóquio pela terceira vez. Nesta época, o judô e o kendô alcançam uma grande popularidade.
1902 a 1905 - Foi enviado por duas vezes a China pelo Ministro Nacional em missão cultural. Em outubro de 1905 obteve a 4ª Categoria Imperial.
1907 - Fundou no Butokukai os três primeiros katas do judô.
1909 - Tornou-se o primeiro japonês membro do comitê olímpico internacional. Modificou os estatutos do Kodokan, tornando-o uma entidade pública.
1911 - Foi eleito presidente da Federação Desportiva do Japão.
1912 - Foi enviado em missão cultural à Europa e América.
1915 - Fundou a revista Kodokan. Recebeu do rei da Suécia por ter participado ativamente da organização dos 7º Jogos Olímpicos a medalha de honra ao mérito.
1920 - Consagrou-se inteiramente ao judô. E julho, assistiu aos Jogos Olímpicos de Antuérpia, visitando depois a Europa.
1921 - Demitiu-se da presidência da Federação Desportiva do Japão.
1922 - Eleito membro da Casa dos Nobres.
1924 - Foi nomeado professor honorário da Escola Normal Superior de Tóquio (Tóquio Higner School).
1928 - Esteve presente nos Jogos Olímpicos em Amsterdã como membro do COI.
1932 - Deslocou-se aos Estados Unidos para assistir aos Jogos Olímpicos de Los Angeles. Tornou-se conselheiro do gabinete de Educação Física do Japão. Participou por duas vezes no Conselho dos Jogos Olímpicos que lançara o convite para os jogos japoneses (1932-1934).
1936 - Assistiu aos XI Jogos Olímpicos de Berlim.
1938 - Esteve na Reunião do COI no Cairo, onde propôs que Tóquio fosse escolhida como sede dos XII Jogos Olímpicos. Morreu em 04 de maio, no mar, na viagem de volta. Recebeu a título póstumo o 2º Grau Imperial.

Essas são algumas de suas muitas atividades, outras não foram aqui mencionadas, sabendo-se que a sua busca de realizações foram muito além do normal, notadamente para quem como Kano introduziu também o desporto e a educação física no plano educacional do Japão, fato esse já seria suficiente para perpetuar seu nome como educador e como esportista.
Por tudo que esse grande mestre nos legou, concluímos que ele sempre esteve muito avançado sobre o seu tempo. Hoje, nosso mestre é cultuado em sua pátria e também em todos os países do mundo.
Dos mais modestos aos mais requintados dojos, centenas de milhares de esportistas usufruem de sua obra: o JUDÔ.
Jigoro Kano aclama o Aikido como Budo ideal.
No outono de 1925, depois de insistentes pedidos de seu admirador, Almirante Isamu Takeshita, Morihei Ueshiba foi a Tóquio para realizar uma demonstração de Aikido diante de uma distinta platéia, entre a qual se encontrava o ex-primeiro ministro Conde Gonnohyoe Yamamoto.
O Conde Yamamoto ficou profundamente impressionado pela demonstração do fundador do Aikidô e solicitou-lhe que dirigisse um seminário especial de 21 dias, no palácio anexo de Aoyama, para especialistas de alto nível de Judô e Keido do pessoal da Casa Imperial.
Em outubro de 1930, Jigoro Kano, fundador do Judô Kodokan, teve oportunidade de ver a arte magnífica do O Sensei Morihei Ueshiba, o Aikido, e aclamou-a como o Budo ideal, e até mesmo, enviou-lhe alguns de seus melhores alunos, entre eles estava Kenji Tomiki que seria o primeiro aluno do mestre Morihei Ueshiba a ganhar a graduação de 8˚Dan.

A faixa preta e a sabedoria do sansei.

Conta à lenda que numa cidade do Oriente, um lutador de artes marciais, após muitos anos de difícil treinamento e pesada disciplina, iria receber sua Faixa Preta de um mestre sensei numa cerimônia especial. Ao ajoelhar-se diante do sensei, este lhe diz: "antes de receber a sua tão esperada Faixa Preta, há mais um teste que você deverá passar.
"Estou pronto", responde o discípulo, imaginando que irá lutar mais um "round". "Você deverá responder a seguinte questão", diz o mestre: Qual o verdadeiro significado da Faixa Preta? "Ah!" responde o discípulo. "É o final da minha jornada". "Uma merecida recompensa por todo o meu esforço". O mestre aguarda algo mais, pois claramente não ficou satisfeito com as respostas, e finalmente diz: "você ainda não está pronto para receber sua Faixa Preta. Volte dentro de um ano. Um ano mais tarde, o discípulo está ajoelhado diante do sensei, na expectativa de receber sua faixa preta.
O mestre lhe pergunta: "qual o verdadeiro significado da Faixa Preta?" "É um símbolo de distinção e a maior realização conseguida em nossa arte". “Mais uma vez não satisfeito, o mestre lhe diz: “você ainda não está pronto para a Faixa Preta”, volte dentro de um ano”. Um ano mais tarde, novamente o discípulo escuta a pergunta: "qual o verdadeiro significado da Faixa Preta"? Desta vez ele responde: "a Faixa Preta significa não o fim, mas o começo de uma jornada sem fim. Uma jornada de disciplina trabalha com muito esforço para aperfeiçoamento, e a busca de um crescimento interior cada vez maior". "Sim", disse o mestre. "Agora você está pronto para receber sua faixa preta e começar o seu trabalho". Você que lê este artigo, talvez não esteja recebendo uma Faixa Preta em artes marciais, mas quem sabe está chegando a uma encruzilhada semelhante na vida, um momento de mudança drástica e assustadora, às vezes até doloroso, ou talvez encontra-se na expectativa de atingir um objetivo importante, uma graduação, um novo trabalho, uma aposentadoria. Lembre-se: qualquer que seja a razão para "receber a sua Faixa Preta", responda ao seu "mestre interior" com a sabedoria dos sensei. Mudanças não devem nos assustar. Aparentes finais podem ser promissores começos. Existe apenas um lugar de descanso e tranqüilidade permanente. Mas as pessoas, em seu instinto de vida, lutam com todas as suas forças para não ir para lá. Por que não recomeçar a sua busca, agora aplicando a sabedoria do sensei?

A Filosofia das Artes Marciais.

“Certo dia, vários jovens se reuniram com um mestre de artes marciais muito sábio. Tais jovens manifestavam um grande potencial de ação inspirado por ideais de ajuda à humanidade. Levados pela necessidade de harmonizar esses ideais com uma ação prática e eficiente, aceitaram a proposta de dialogar com o mestre sobre qual seria o melhor caminho a seguir.
O primeiro dos jovens a opinar expôs que, para ajudar as pessoas, o melhor caminho seria a Política, uma vez que somente quando os homens honestos governassem o mundo este poderia melhorar. O segundo defendeu o papel da Religião argumentando que, quando os homens verazes se tornassem sacerdotes, a humanidade poderia se libertar da miséria. O terceiro defendeu a importância da Ciência dizendo que quando os verdadeiros buscadores se tornassem cientistas, os homens poderiam superar a dor e o sofrimento. O quarto jovem, por sua vez, disse que a Arte seria o meio mais eficaz de transformação da existência humana já que quando os homens possuidores de senso estético apurado se tornassem artistas, a humanidade alcançaria a beleza.
Logo após terem se pronunciado, perguntaram ao mestre qual deles tinha razão. Então o mestre disse:
- O mais difícil é que o ser humano consiga viver em harmonia, de forma que suas ações possam refletir suas idéias, isto é, que haja constante equilíbrio entre seus pensamentos, sentimentos, energias e corpo físico, recebendo, assim, esses quatro elementos, o que por natureza lhes corresponde. Dessa forma, poderá o ser humano eliminar as suas carências e alcançar uma forma de vida paciente e fraternal. Após esta etapa, a Política, a Religião, a Ciência e a Arte poderão se tornar boas ferramentas para elevar a humanidade a uma etapa superior. Esse caminho o chamo, como todos os Sábios o fizeram, o Caminho da Sabedoria ou Filosofia. Eu, como instrutor de artes marciais, desenvolvo o caminho da Filosofia das Artes Marciais, que não é o único nem o melhor caminho, e cujo objetivo é qualificar o discípulo para chegar a ser verdadeiramente humano, ou seja, um homem bom, justo, veraz, sábio e belo, tanto quanto um homem pode sê-lo neste mundo.”
Deste pequeno conto, que guarda mais do que mostra, podemos extrair vários ensinamentos. Um deles é o que todos os grandes Mestres e instrutores têm promovido: a fraternidade humana - um convívio de paz, amor, caridade e muitas outras virtudes também tão importantes. Isso é algo que em geral todos sabemos, porém a dificuldade está justamente em viver essas virtudes no dia a dia. Um dos caminhos que levariam a uma prática desse ideal de convivência humana seria, segundo o conto, a Filosofia das Artes Marciais.
Com efeito, as artes marciais se propõem a melhorar a vida do ser humano em diversos aspectos.


São seus objetivos:
01. Equilibrar no ser humano os desejos com as tendências vocacionais, de tal forma que aprenda desejar o que na prática faz da melhor maneira;
02. Desenvolver o potencial do homem forte e corajoso, para o bem, o justo, o belo e o verdadeiro;
03. Ensinar a lidar com o medo;
04. Ensinar a viver estrategicamente;
05. Propor soluções de como preservar a saúde e controlar o estresse;
06. Ensinar a lidar com a solidão extraindo a mensagem do silêncio;
07. Mostrar como desenvolver a personalidade taticamente;
08. Mostrar como criar uma técnica que permita que os ideais conduzam a ações práticas em todos os instantes da vida;
09. Desenvolver o espiritual e o humano.
10. A prática da Filosofia das Artes Marciais implica, pois, uma forma de vida sóbria, sensata, paciente, plena de amor e em harmonia com todo o universo.


O mito que prevalece nas artes marciais é o do homem como “ponte” entre o céu e a terra.
De acordo com a Filosofia das Artes Marciais, o ser humano pode conquistar a unidade ainda neste mundo e assim trazer um grande benefício para todos.
Essas considerações por nós feitas até aqui podem surpreender muitas pessoas para as quais as artes marciais são apenas práticas esportivas ou mesmo atividades extremamente violentas. A associação de tais imagens às artes marciais pode ser justificada. O ser humano acaba por se deixar guiar, muitas vezes, por interesses que o fazem esquecer princípios e possibilidades de levar uma vida em que ideais e prática se harmonizem. O homem, deixando que seu maior inimigo, o egoísmo, o domine, manifestando toda sua fraqueza e ignorância separatista, acaba por afastar as práticas de sua origem pura, virtuosa.
As artes marciais possuem treinamentos para fortalecer o homem contra o egoísmo e conhecimentos milenares para vencer a ignorância da separatividade.
Originalmente, os guerreiros eram homens fortes e sábios. A tradição nos conta que desenvolviam a trilha da guerra interior, isto é, lutavam consigo mesmo para atingir a perfeição. A luta contra outros semelhantes nunca foi algo pretendido por tais homens, já que vislumbravam a realização, neste mundo, da mais sábia forma de vida, a da não violência. Aliás, é contra a violência que a Filosofia das Artes Marciais trava sua verdadeira batalha. O discípulo deve encarar seus próprios defeitos e vencê-los, um a um, até que a única armadura que aceite utilizar sejam suas virtudes.
A proposta deste livro é demonstrar que existe um caminho de virtudes marciais, não violentas, em que é possível vencer todos os obstáculos que separam o homem da sua verdadeira realidade, sem que este infrinja as sábias leis da natureza, ou seja, em harmonia e fraternidade com todos os seres humanos e todas as criaturas do universo.

O Judô tambem abriga aula pra vida.

O fundador do judô, Jigoro Kano, era educador e foi dono de escola de inglês antes de abrir sua academia. O "Pelé do tatame", Yasuhiro Yamashita, invicto ante estrangeiros nas 559 lutas que fez, atualmente ensina na graduação de professores em uma faculdade de Educação Física.
Um exemplo remoto e um atual ilustram a ligação entre a modalidade e o ensino.Um vínculo tão forte que leva o país de maior êxito nos tatames a ter o judô como disciplina escolar.
No Japão, que tanto se orgulha de ser o berço de uma das raras modalidades olímpicas em que os contendores se curvam em sinal de respeito antes e após o combate, o judô transcende a importância esportiva.
"Uma das razões do sucesso do judô no Japão é o fato de ser incentivado nas escolas. Passa valor educacional, calcado na humildade e no espírito esportivo. Tem apoio da sociedade", diz Yamashita, dono de um ouro olímpico e nove Nacionais na classe sem limite de peso.
Hoje docente na Universidade de Tokai, ele vai à etimologia do termo judô para explicar sua influência na sociedade.

O significado de 'Do' é 'caminho'
Os valores transmitidos pelo esporte se aplicam à vida de muitos japoneses. "Os valores a que ele se refere são resumidos na fórmula "melhor uso da energia e bem-estar mútuo", cunhada pelo fundador do judô, Jigoro Kano, para nortear a modalidade "Significa conseguir o resultado máximo com o mínimo uso de força e valorizar o oponente.
Sem “ele um judoca não tem como evoluir”, conta o professor Naoki Murata, curador do museu do Kodokan, instituto fundado por Kano em 1882.
Na prática, diz ele, com autoridade de faixa-preta 7º dan, isso aparece na incessante busca pelo ippon. "Ensinamos a busca pelo golpe perfeito. Por isso, nos eventos japoneses não há koka (menor pontuação internacional, atribuída ao atleta que faz o rival cair sentado)."
De fato. Nas mais de três horas de treino de luta que a Folha presenciou em Tokai, com os 65 faixas-pretas da equipe nas quatro categorias acima de 81 kg, os judocas sempre buscaram técnicas para finalizar os combates de maneira súbita.
Golpes que costumam render menos pontos "catadas de perna e técnicas de projeção lateral" não foram vistos.
Quando atacados, os universitários não retraíam o corpo, abaixando o quadril de forma defensiva. Sempre tentavam posição para contra golpear.
"O objetivo é jogar, não fazer pontos. A responsabilidade do judô japonês é expandir isso, que é o judô correto. A questão não é vencer a luta, mas perseguir esse golpe",resume Ken Agemizu, técnico de Tokai.
Com a diretriz, ele mantém na equipe até quem não tem ambição no plano esportivo.
É o caso de Kentaro Kodoma, 21, que já abandonou há tempos o sonho de chegar à seleção.
"É meu último ano como competidor universitário. Quero me formar e ensinar o judô para crianças" comenta o estudante de educação física.
Ele avalia que o judô o tornou mais esforçado e disciplinado, o que tentará transmitir aos seus alunos. A missão que o futuro professor se impõe é realizada diariamente no Kodokan, berço da modalidade.
Foi em sua academia que Jigoro Kano rompeu com a tradição dos mestres do jiu-jitsu japonês e, em vez de transmitir secretamente as técnicas para apenas seu discípulo mais graduado, democratizou o ensino.
"Kano ensinou também às mulheres. E, como falava inglês perfeitamente, exportou o judô", comenta Murata, para narrar como e por que o judô suplantou o jiu-jitsu no Japão.
Hoje, meninos e meninas, a partir dos quatro anos, dividem o tatame do Kodokan nas aulas para iniciantes.
Apesar de preservar as tradições, a academia é permeável a novidades vindas do exterior, como relata Mikihiro Mukai, chefe do treinamento infantil.
"Em 12 anos como treinador da seleção júnior feminina, notei que as crianças se divertiam mais nas aulas fora do Japão do que aqui, onde são ensinadas de forma mais severa e disciplinada.

O Aperfeiçoamento Pessoal



Um praticante certa vez perguntou a um mestre Zen, que ele considerava muito sábio:
"Quais são os tipos de pessoas que necessitam de aperfeiçoamento pessoal?"
"Pessoas como eu." Comentou o mestre. O praticante ficou algo espantado:
"Um mestre como o senhor precisa de aperfeiçoamento?"
"O aperfeiçoamento," respondeu o sábio, "nada mais é do que vestir-se, ou alimentar-se..."
"Mas," replicou o praticante, "fazemos isso sempre! Imaginava que o aperfeiçoamento significasse algo mais profundo para um mestre."
"O que achas que faço todos os dias?" retrucou o mestre. "A cada dia, buscando o aperfeiçoamento, faço com cuidado e honestidade os atos comuns do cotidiano. Nada é mais profundo do que isso."

DOJO KUN



HITOTSU - JINKAKU KANSEI NI TSUTOMURU KOTO
Esforçar-se para formação do caráter!
HITOTSU - MAKOTO NO MICHI O MAMORU KOTO
Ser fiel ao verdadeiro caminho da razão!
HITOTSU - DORYOKU NO SEISHIN O YASHINAU KOTO
Criar o intuito de esforço!
HITOTSU - REIGI O OMONZURU KOTO
Respeitar, acima de tudo!
HITOTSU - KEKKI NO YU O IMASHIMURU KOTO
Reprimir o espírito de agressão!